quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Educação Infantil


Formação docente da educação infantil: Espaço complexo e multirreferencial

CAMPOS, Gleisy Vieira; LIMA, Lilian (org.).Por dentro da Educação Infantil: a criança em foco. Wak Editora, Rio de Janeiro, 2010.
Resenhado por: Vanessa da Costa Leite


Para o autor Elson Lemos, pesquisador e professor assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia, em seu artigo Formação docente da educação infantil: Espaço complexo e multirreferencial, do livro Por dentro da Educação Infantil: a criança em foco de organização Gleisy Campos, a educação é um processo pelo qual construímos conhecimento a partir das inúmeras situações problemas que são geradas no ambiente de aprendizagem, onde por meio de um processo dialético, influenciam e são influenciados e estabelecem relações entre si, ajustando, integrando e modificando a sociedade que está inserido.
Ou seja, a educação ocorre no processo ensino-aprendizagem, onde professor e alunos constroem juntos conhecimentos, através do dialogo nas relações sociais, no convívio entre si, resolvendo problemas cotidianos, o educador mostrando assim para o educando o poder de através de atitudes transformar sua realidade.
Vale ressaltar que em relação ao o papel do educador na educação infantil, ao longo dos tempos, sofreu e tem sofrido várias modificações, assim, seu objetivo nesse trabalho é analisar de forma clara essas mudanças e relacioná-las neste processo enquanto espaço complexo e multirreferencial.
É importante salientar que essas mudanças não ocorreram não só com esse profissional, mais também em relação à atenção que é dada a infância nos últimos anos, verifica-se que a educação se desperta para a importância da educação infantil, onde se torna inaceitável hoje iniciar a aprendizagem formal de uma criança pelo ensino fundamental, pulando a educação infantil, isso é o mesmo que construir uma casa sem a consistência de um bom alicerce. É preciso, pois, lutar pela educação infantil e pela qualidade da formação do educador da educação infantil, priorizando esta etapa de fundamental importância na educação de cidadãos ativos e participativos em nosso contexto social.
Analisa-se a formação do docente da educação infantil que ganha singularidade na medida em que implicará ocupar lugar de reconstrução dos saberes profissionais, subjetivando-o e apontando para as potencialidades transformadoras, agregando como elemento irredutível a inseparabilidade entre o processo formativo e auto-formativo. O docente tem o compromisso não só de forma-se em um curso superior, mas de estar em auto formação continuamente na sua praxi pedagógica
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), promulgada em 20 de dezembro de 1996, considera a educação infantil como “primeira etapa da educação básica” (artigo 29). No seu artigo 62, ela impõe a necessidade de “curso normal superior”, concluído em instituto superior de educação, como formação mínima obrigatória para o exercício do magistério na área de educação infantil. Pode-se perceber que a formação do educador da educação infantil não se torna menos importante do que os outros níveis de educação, sendo, portanto, obrigatório a formação superior desse profissional, que não o torna menos relevante na formação de nossas crianças e de nossos futuros cidadãos. A esse respeito Izabel Sadalla Grispino em Prática Pedagógica (Estruturando pedagogicamente a escola), 2004 nos diz:
Descobriu-se que a educação infantil tem papel fundamental no desenvolvimento do comportamento social. Ela é vista não só como alicerce do desenvolvimento cognitivo, mas como alicerce da formação da personalidade, do caráter, da religiosidade. Formar a criança é prevenir o futuro. Dar-lhe valores morais, éticos, é preparar um futuro de paz, sem violência, formar uma sociedade melhor estruturada. Ademais, a criança, segundo recentes estudos, é o agente transformador da sociedade mais eficaz que se tem. O que ela aprende na escola leva à sua família, à sua comunidade, à sua cultura. A criança é um educador social de importância. ( GRISPINO,2004.)
É imprescindível a compreensão que o educador deve sempre relacionar os seus conhecimentos com sua prática pedagógica, avaliando constantemente, sua práxis pedagógica, onde teoria e prática sempre devem caminhar no objetivo de um fazer pedagógico compromissado com a qualidade da educação, onde o professor da educação infantil tem seus conhecimentos construídos de acordo com o desenvolvimento de sua prática educacional.
A prática educacional vai muito além de transmitir conhecimentos, o educador ensina com afetividade, ouve, toca, estende a mão, compreender que ser professor da educação infantil é muito além de cuidar de crianças que não raramente pronunciam poucas palavras, ele simplesmente entende que o processo ensino aprendizagem é uma via de mão dupla, onde muitas vezes mais se aprende do que se ensina.
De acordo com Lemos pode-se afirmar que o saber do docente da educação infantil constitui um saber compartilhado em rede, em uma composição de interações, aliada a uma crescente confiança e comprometimento, de inspiração solidária em um ambiente de construção sistematizada do conhecimento na medida em que vai experienciando paulatinamente vivências significativas para sua ação docente.
Assim, mediante a proposta de Lemos é de suma importância apostar na formação do profissional da educação infantil, no que se refere as suas potencialidades auto formadoras, uma vez, que esse mesmo sujeito inserido em um determinado contexto possui a capacidade subjetiva de objetivar sua realidade e assim geri-la no intuito de tornar-se ator social e peça primordial de tal contexto.
 Entende-se, portanto, que as experiências dos docentes da educação infantil são de suma importância e a transferência desses saberes auxilia na constituição de novas formas de atuação do futuro professor, o compartilhamento de experiências entre estes profissionais só tem a contribuir com a educação de nossas crianças
O pesquisador nos faz compreender um fato curioso no processo de ser professor da educação infantil é que o professor assim nunca está pronto, porém nunca esteve fora do seu alcance a capacidade de educar. Ou seja, nunca está pronto porque sua formação é, e sempre será um processo continuo, entretanto, todos temos a capacidade de educar de acordo com nossos saberes implícitos em nossas vivências em sociedade.
Lemos nos coloca em uma reflexão quando diz que uma hora o professor não está pronto e, portanto, precisa forma-se para se dar por concluído, ora já é pronto com capacidade de atuar e para isso não há necessidade de formação. Sendo assim, sempre estará ao alcance de todos o ato de educar, entretanto compreender o processo educacional dentro de suas complexidades, somente através de uma formação mais fundamentada com a pratica pedagógica.
Como docente de Estágio na Educação infantil, Lemos nos leva a tentar compreender como se dar a introdução dos alunos do curso de pedagogia no contexto educacional para a construção de saberes relacionados à ação docente, ou seja, precisa estar inserido nesse contexto para que ocorra a construção e compreensão dos seus saberes singularmente construídos na prática educacional.
Quando se falar de prática pedagógica é preciso fazer uma reflexão sobre currículo, pois esse sendo de complexidade singular exige um olhar mais aprofundado, que através de seu desvelamento, esclarece as relações de poder, que este nos apresenta, assim como a reprodução, a resistência e a solidariedade fazem parte desse mesmo processo.
O currículo não pode ser analisado de forma reducionista que o ver apenas como programa ou grade curricular. É preciso abrir o leque de entendimento para analisar aspectos que influenciam toda concepção e construção dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Mas, além dessa visão, acreditamos que a escola não é reprodutora por excelência, isso depende de quem dela faz parte.
Pode-se dizer que a escola é também produtora de conhecimento, toda essa diferença será favorecida a partir da atuação do professor, membro ativo desse processo.  É através da sua prática em sala de aula, onde o currículo oficial se transforma em currículo real, que o professor coloca o aluno mais próximo da verdade.
Sobre isso, afirma Paulo Freire em a importância do ato de ler (1999), que na medida em que compreendemos a educação, de um lado reproduzindo a ideologia dominante, mas, do outro lado, proporcionando, independentemente da intenção de quem tem o poder, a negação daquela ideologia ou seu desvelamento pela confrontação entre ela e a realidade, como de fato ela está sendo, não como o discurso oficial diz que ela é, realidade vivida pelos educandos e pelos educadores, percebemos a inviabilidade de uma educação neutra.
Além disso, em relação às questões curriculares, segundo Lemos, a formação do educador na educação infantil passa a ser entendida enquanto processo que não se solidifica no interior de um grupo tampouco dentro de um curso. Esta formação deverá acontecer de maneira que os elementos teóricos e práticos estejam articulados e consubstancie o entendimento que este processo é contínuo e que não é para concluir um determinado curso e não se concretizará apenas pela participação ativa no cotidiano da educação.
Paulo Freire afirma que a cultura do homem consiste em recriar e não em repetir, pois o ser humano não é um ser de adaptação. O homem esta em constante mutação, à medida que ele interage com ambiente em que vive esta sempre analisando suas condutas, assimilando, descartando ou acrescentando saberes no seu cotidiano. Assim sendo, a mudança é algo que está sempre presente em nossa vida, o que não implica que muitas vezes resistimos a essas mudanças. Deste ponto de vista podemos dizer que de acordo com ações que o homem exerce sobre o mundo, ele pode ser levado a repetir e recriar.
Por isso, a inclusão do aluno-estagiário do curso de pedagogia em instituições de educação infantil dar a entender que a condição necessária para que este possa experienciar a realidade para o qual está sendo preparado, através de práxis inovadoras e transformadoras, nesse sentido, o estágio curricular pressupõe atividades pedagógicas efetivadas em um ambiente institucional de trabalho, através dos saberes tácito.
Assim, os saberes tácitos construídos pelo aluno do curso de pedagogia, quando inseridos no contexto da educação infantil, constitui elemento de grande relevância para a formação docente dando instrumentos fundamentais ao aluno-estagiário para o futuro/presente exercício da profissão, que deverá está preparado para atuar diante do inédito, do inusitado e, para tanto, se aposta nos fluxos das ideias, no potencial criativo e no aprender a pensar.
É necessário enfim, que o aluno-estagiário esteja envolvido nesse processo, atuando tanto na observação como na prática do processo educacional nas instituições de ensino infantil, vivenciando todos os momentos tão necessários para a qualidade de sua formação profissional e a construção dos saberes tácitos. Portanto, os conhecimentos tácitos, adquiridos ao longo da vida, devem ser espontâneos e singulares, objetivando a construção do saber do processo de formação do acadêmico, esse conhecimento deve ser repassado de forma critica, pois o público (infantil) é diferenciado.
A ação do docente da educação infantil é uma atividade notavelmente prático-poética. Poética faz referência a poiésis, termo grego que faz referencia a criação, a autentica criação; criação essa vista como inseparável da alteridade, da auto alteração, marcando assim sua presença diante do inédito e do inusitado. Sobretudo, a relação educador-educando deve ser desenvolvida dentro de uma pedagogia dialógico-dialético, privilegiando a “ação criadora”, onde o educador alia-se ao educando em sua atividade prática educativa, para que o processo de ensino aprendizagem se relacione de maneira que todos possam ensinar e aprender.   
De acordo com Lemos, as atividades práticas-poéticas são atividades que não apresentam na sua gênese desejo de saber nem um ingênuo e simples emprego do saber, é uma tentativa de reduzir a realidade à lei e formas específicas dedicadas a casos individuais, em forma de receituário universal. O educador deve ser capaz de colocar-se diante do desafio e não encontrar solução, porém encontrar caminho para essa descoberta que, por sinal, pode até mesmo não existir.
Portanto, torna-se conveniente relacionar o texto em questão com algumas teses do pensamento complexo Paulo Freire (1995) que nos descreve que muitos têm sido os pensamentos em torno deste ou daquele desafio que me instiga, desta ou daquela dúvida que me inquieta, mas também me devolve à incerteza, único lugar de onde é possível trabalhar de novo necessárias certezas provisórias.
Pode-se dizer, portanto, que a educação sempre voltará ao início e teremos a chance para o recomeço de uma nova história mais solidificada e comprometida com a construção do saber.Cabe ao educador, o papel de organizar o processo de aquisição de cada cultura facilitando a integração, respeitando à individualidade de cada criança, primando pela pluralidade de pensamentos que surgiram no contexto escolar, buscando sempre construir e aprender um novo saber.

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