Formação docente da educação infantil: Espaço
complexo e multirreferencial
CAMPOS,
Gleisy Vieira; LIMA, Lilian (org.).Por dentro da Educação Infantil: a criança em foco. Wak Editora, Rio
de Janeiro, 2010.
Resenhado
por: Vanessa da Costa Leite
Para o autor Elson Lemos, pesquisador e professor
assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Mestre em
educação pela Universidade Federal da Bahia, em seu artigo Formação
docente da educação infantil: Espaço complexo e multirreferencial, do livro Por dentro da Educação Infantil: a criança em foco de organização Gleisy
Campos, a educação é um processo pelo qual construímos conhecimento a partir
das inúmeras situações problemas que são geradas no ambiente de aprendizagem,
onde por meio de um processo dialético, influenciam e são influenciados e
estabelecem relações entre si, ajustando, integrando e modificando a sociedade
que está inserido.
Ou seja, a educação ocorre no processo
ensino-aprendizagem, onde professor e alunos constroem juntos conhecimentos, através
do dialogo nas relações sociais, no convívio entre si, resolvendo problemas
cotidianos, o educador mostrando assim para o educando o poder de através de
atitudes transformar sua realidade.
Vale ressaltar que em relação ao o papel do educador
na educação infantil, ao longo dos tempos, sofreu e tem sofrido várias
modificações, assim, seu objetivo nesse trabalho é analisar de forma clara essas
mudanças e relacioná-las neste processo enquanto espaço complexo e
multirreferencial.
É importante salientar que essas mudanças não
ocorreram não só com esse profissional, mais também em relação à atenção que é dada
a infância nos últimos anos, verifica-se que a educação se desperta para a
importância da educação infantil, onde se torna inaceitável hoje iniciar a
aprendizagem formal de uma criança pelo ensino fundamental, pulando a educação
infantil, isso é o mesmo que construir uma casa sem a consistência de um bom
alicerce. É preciso, pois, lutar pela educação infantil e pela qualidade da
formação do educador da educação infantil, priorizando esta etapa de
fundamental importância na educação de cidadãos ativos e participativos em
nosso contexto social.
Analisa-se a formação do docente da educação
infantil que ganha singularidade na medida em que implicará ocupar lugar de
reconstrução dos saberes profissionais, subjetivando-o e apontando para as
potencialidades transformadoras, agregando como elemento irredutível a
inseparabilidade entre o processo formativo e auto-formativo. O docente tem o
compromisso não só de forma-se em um curso superior, mas de estar em auto
formação continuamente na sua praxi pedagógica
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
promulgada em 20 de dezembro de 1996, considera a educação infantil como
“primeira etapa da educação básica” (artigo 29). No seu artigo 62, ela impõe a
necessidade de “curso normal superior”, concluído em instituto superior de
educação, como formação mínima obrigatória para o exercício do magistério na área
de educação infantil. Pode-se perceber que a formação do educador da educação
infantil não se torna menos importante do que os outros níveis de educação,
sendo, portanto, obrigatório a formação superior desse profissional, que não o
torna menos relevante na formação de nossas crianças e de nossos futuros
cidadãos. A esse respeito Izabel Sadalla Grispino em Prática Pedagógica (Estruturando
pedagogicamente a escola), 2004 nos diz:
Descobriu-se que a educação infantil tem
papel fundamental no desenvolvimento do comportamento social. Ela é vista não
só como alicerce do desenvolvimento cognitivo, mas como alicerce da formação da
personalidade, do caráter, da religiosidade. Formar a criança é prevenir o
futuro. Dar-lhe valores morais, éticos, é preparar um futuro de paz, sem
violência, formar uma sociedade melhor estruturada. Ademais, a criança, segundo
recentes estudos, é o agente transformador da sociedade mais eficaz que se tem.
O que ela aprende na escola leva à sua família, à sua comunidade, à sua cultura.
A criança é um educador social de importância. ( GRISPINO,2004.)
É imprescindível a compreensão que o educador deve
sempre relacionar os seus conhecimentos com sua prática pedagógica, avaliando
constantemente, sua práxis pedagógica, onde teoria e prática sempre devem
caminhar no objetivo de um fazer pedagógico compromissado com a qualidade da
educação, onde o professor da educação infantil tem seus conhecimentos construídos
de acordo com o desenvolvimento de sua prática educacional.
A prática educacional vai muito além de transmitir
conhecimentos, o educador ensina com afetividade, ouve, toca, estende a mão,
compreender que ser professor da educação infantil é muito além de cuidar de
crianças que não raramente pronunciam poucas palavras, ele simplesmente entende
que o processo ensino aprendizagem é uma via de mão dupla, onde muitas vezes
mais se aprende do que se ensina.
De acordo com Lemos pode-se afirmar que o saber do
docente da educação infantil constitui um saber compartilhado em rede, em uma
composição de interações, aliada a uma crescente confiança e comprometimento,
de inspiração solidária em um ambiente de construção sistematizada do
conhecimento na medida em que vai experienciando paulatinamente vivências
significativas para sua ação docente.
Assim, mediante a proposta de Lemos é de suma
importância apostar na formação do profissional da educação infantil, no que se
refere as suas potencialidades auto formadoras, uma vez, que esse mesmo sujeito
inserido em um determinado contexto possui a capacidade subjetiva de objetivar
sua realidade e assim geri-la no intuito de tornar-se ator social e peça
primordial de tal contexto.
Entende-se,
portanto, que as experiências dos docentes da educação infantil são de suma
importância e a transferência desses saberes auxilia na constituição de novas
formas de atuação do futuro professor, o compartilhamento de experiências entre
estes profissionais só tem a contribuir com a educação de nossas crianças
O pesquisador nos faz compreender um fato curioso no
processo de ser professor da educação infantil é que o professor assim nunca
está pronto, porém nunca esteve fora do seu alcance a capacidade de educar. Ou
seja, nunca está pronto porque sua formação é, e sempre será um processo
continuo, entretanto, todos temos a capacidade de educar de acordo com nossos
saberes implícitos em nossas vivências em sociedade.
Lemos nos coloca em uma reflexão quando diz que uma
hora o professor não está pronto e, portanto, precisa forma-se para se dar por
concluído, ora já é pronto com capacidade de atuar e para isso não há
necessidade de formação. Sendo assim, sempre estará ao alcance de todos o ato
de educar, entretanto compreender o processo educacional dentro de suas
complexidades, somente através de uma formação mais fundamentada com a pratica
pedagógica.
Como docente de Estágio na Educação infantil, Lemos
nos leva a tentar compreender como se dar a introdução dos alunos do curso de
pedagogia no contexto educacional para a construção de saberes relacionados à
ação docente, ou seja, precisa estar inserido nesse contexto para que ocorra a
construção e compreensão dos seus saberes singularmente construídos na prática
educacional.
Quando se falar de prática pedagógica é preciso
fazer uma reflexão sobre currículo, pois esse sendo de complexidade singular
exige um olhar mais aprofundado, que através de seu desvelamento, esclarece as
relações de poder, que este nos apresenta, assim como a reprodução, a
resistência e a solidariedade fazem parte desse mesmo processo.
O currículo não pode ser analisado de forma
reducionista que o ver apenas como programa ou grade curricular. É preciso
abrir o leque de entendimento para analisar aspectos que influenciam toda
concepção e construção dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Mas, além
dessa visão, acreditamos que a escola não é reprodutora por excelência, isso
depende de quem dela faz parte.
Pode-se dizer que a escola é também produtora de
conhecimento, toda essa diferença será favorecida a partir da atuação do
professor, membro ativo desse processo.
É através da sua prática em sala de aula, onde o currículo oficial se
transforma em currículo real, que o professor coloca o aluno mais próximo da
verdade.
Sobre isso, afirma Paulo Freire em a importância do
ato de ler (1999), que na medida em que compreendemos a educação, de um lado
reproduzindo a ideologia dominante, mas, do outro lado, proporcionando,
independentemente da intenção de quem tem o poder, a negação daquela ideologia
ou seu desvelamento pela confrontação entre ela e a realidade, como de fato ela
está sendo, não como o discurso oficial diz que ela é, realidade vivida pelos
educandos e pelos educadores, percebemos a inviabilidade de uma educação neutra.
Além
disso, em relação às questões curriculares, segundo Lemos, a formação do
educador na educação infantil passa a ser entendida enquanto processo que não
se solidifica no interior de um grupo tampouco dentro de um curso. Esta
formação deverá acontecer de maneira que os elementos teóricos e práticos
estejam articulados e consubstancie o entendimento que este processo é contínuo
e que não é para concluir um determinado curso e não se concretizará apenas
pela participação ativa no cotidiano da educação.
Paulo
Freire afirma que a cultura do homem consiste em recriar e não em repetir, pois
o ser humano não é um ser de adaptação. O homem esta em constante mutação, à
medida que ele interage com ambiente em que vive esta sempre analisando suas
condutas, assimilando, descartando ou acrescentando saberes no seu cotidiano.
Assim sendo, a mudança é algo que está sempre presente em nossa vida, o que não
implica que muitas vezes resistimos a essas mudanças. Deste ponto de vista
podemos dizer que de acordo com ações que o homem exerce sobre o mundo, ele
pode ser levado a repetir e recriar.
Por
isso, a inclusão do aluno-estagiário do curso de pedagogia em instituições de
educação infantil dar a entender que a condição necessária para que este possa
experienciar a realidade para o qual está sendo preparado, através de práxis
inovadoras e transformadoras, nesse sentido, o estágio curricular pressupõe
atividades pedagógicas efetivadas em um ambiente institucional de trabalho,
através dos saberes tácito.
Assim, os saberes tácitos construídos pelo aluno do
curso de pedagogia, quando inseridos no contexto da educação infantil,
constitui elemento de grande relevância para a formação docente dando
instrumentos fundamentais ao aluno-estagiário para o futuro/presente exercício
da profissão, que deverá está preparado para atuar diante do inédito, do inusitado
e, para tanto, se aposta nos fluxos das ideias, no potencial criativo e no
aprender a pensar.
É necessário enfim, que o aluno-estagiário esteja
envolvido nesse processo, atuando tanto na observação como na prática do
processo educacional nas instituições de ensino infantil, vivenciando todos os
momentos tão necessários para a qualidade de sua formação profissional e a
construção dos saberes tácitos. Portanto, os conhecimentos tácitos, adquiridos
ao longo da vida, devem ser espontâneos e singulares, objetivando a construção
do saber do processo de formação do acadêmico, esse conhecimento deve ser
repassado de forma critica, pois o público (infantil) é diferenciado.
A ação do docente da educação infantil é uma
atividade notavelmente prático-poética. Poética faz referência a poiésis, termo
grego que faz referencia a criação, a autentica criação; criação essa vista
como inseparável da alteridade, da auto alteração, marcando assim sua presença
diante do inédito e do inusitado.
Sobretudo, a relação educador-educando deve ser desenvolvida dentro de uma
pedagogia dialógico-dialético, privilegiando a “ação criadora”, onde o educador
alia-se ao educando em sua atividade prática educativa, para que o processo de
ensino aprendizagem se relacione de maneira que todos possam ensinar e
aprender.
De
acordo com Lemos, as atividades práticas-poéticas são atividades que não
apresentam na sua gênese desejo de saber nem um ingênuo e simples emprego do
saber, é uma tentativa de reduzir a realidade à lei e formas específicas
dedicadas a casos individuais, em forma de receituário universal. O educador
deve ser capaz de colocar-se diante do desafio e não encontrar solução, porém
encontrar caminho para essa descoberta que, por sinal, pode até mesmo não
existir.
Portanto,
torna-se conveniente relacionar o texto em questão com algumas teses do
pensamento complexo Paulo Freire (1995) que nos descreve que muitos têm sido os
pensamentos em torno deste ou daquele desafio que me instiga, desta ou daquela
dúvida que me inquieta, mas também me devolve à incerteza, único lugar de onde
é possível trabalhar de novo necessárias certezas provisórias.
Pode-se
dizer, portanto, que a educação sempre voltará ao início e teremos a chance
para o recomeço de uma nova história mais solidificada e comprometida com a
construção do saber.Cabe ao educador, o papel de organizar o processo de
aquisição de cada cultura facilitando a integração, respeitando à
individualidade de cada criança, primando pela pluralidade de pensamentos que
surgiram no contexto escolar, buscando sempre construir e aprender um novo
saber.
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